Eu passei muito tempo evitando.
Evitando dizer o que sentia falta.
Evitando qualquer contado com o passado que me fizesse lembrar dele.
Evitando tocar no assunto para que não deixasse ninguém triste.
Evitando qualquer tipo de situação que pudesse me fazer lembrar dele.
Eu chorei.
Chorei lembrando de todos os lugares do mundo que ele não teve a chance de conhecer.
Chorei por todas as vezes em que me despedi dele ao ir embora da cidade.
Chorei só de lembrar que nunca mais ouviria seu assovio.
Chorei só de pensar que nunca mais poderia conversar com ele.
Chorei só de lembrar que nunca mais o veria assentado no fogão a lenha.
Eu me enganei.
Menti que ele não estava mais aqui.
Menti que ele estava em casa… bem.
Omiti, em pensamentos, pra me livrar a dor de alguns instantes.
Fiz isso tudo porque eu não sei lidar com isso.
Eu não sei lidar com o fato de não conseguir, nunca mais, me encontrar com você de novo. De nunca mais poder olhar pra você, te ver caminhar tranquilo pela casa, de te ver na janela olhando a vista…
Eu não sei lidar com o fato de ter perdido tudo isso.
A pior parte é que, no meio disso tudo, eu tentei esquecer.
Tentei esquecer para conseguir seguir com os dias. Sem nem pensar nos dias bons que vivemos juntos. Mas foi impossível.
Morrer é diferente de esquecer.
Me peguei pensando nisso hoje.
Surgiram assuntos sobre a vovó, da personalidade dela e me peguei tentando lembrar. Tentando abrir aquela gaveta de lembranças que fechei a sete chaves.
Foi difícil tentar abrir e reconhecer as partes boas, os momentos bons que vivemos juntas sem ter vontade de chorar.
Eu não quero que isso aconteça de novo.
Eu quero destrancar essa gaveta que fechei para você também. Abrir e lembrar dos momentos bons e ruins sem chorar todas as vezes. Sem pensar no quanto eu sinto a sua falta.
Quero aprender a olhar para estes momentos e entender que foram bons enquanto duraram.
Tudo tem uma data para terminar, mesmo que eu não consiga entender isso de verdade e, principalmente, aceitar.
Preciso começar a enxergar a morte com outros olhos. Preciso reviver minhas memórias e nunca esquecer de como era ter vocês aqui.
Não quero abrir essas gaveta que fechei a sete chaves, me pegar tentando lembrar os momentos bons e ter me esquecido.
Mais difícil do que tentar esquecer, é conseguir e não lembrar mais nada do que vivemos juntos.
Agora estou tentando abrir sem chorar.