Quando o assunto é política brasileira, nunca sabemos em quem acreditar. Não sabemos quem mente melhor que quem e o pior, sempre nos enganamos ao escolhermos um herói. No filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca, que estreia hoje (26/10) nos cinemas de todo o país, a corrupção também está em destaque, só que dessa vez lá nos Estados Unidos dos anos 70. O filme mostra que nem sempre investigações são fechadas por falta de evidências. As respostas podem estar onde nem poderíamos imaginar.
Fui assistir ao filme a convite da Diamond Films Brasil, a distribuidora do filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca na América Latina.
Assista ao trailer do filme abaixo:
História do filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca
O filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca é baseado em uma história real. Sim, o homem capaz de tirar um presidente dos Estados Unidos do poder existiu e é considerado um dos maiores delatores do país e também é considerado a “fonte anônima mais famosa da história americana” pelo jornal New York Times. Isso porque ele simplesmente revelou à imprensa segredos que nunca poderiam ter saído de dentro do Departamento Federal de Investigação (FBI).
Por isso o nome do filme: “O homem que derrubou a casa branca”. Já que próprio presidente dos Estados Unidos, na época Richard Nixon, renunciou ao cargo, em 1974, mesmo após ter acabado de se reeleger. Isso ocorreu antes de votarem o Impeachment. Encontrei o vídeo da renúncia dele no YouTube, se estiver curioso.
Mark Felt
Felt trabalhava dentro do FBI há 30 anos. Ele tem aquele típico sentimento de amor ao trabalho que é difícil de encontrar nos dias atuais. Aquele em que o trabalhador que começa em uma empresa e segue nele até a aposentadoria.
Isso porque Felt apostou todas as suas fichas no FBI. Sua lealdade, sua integridade e sua vida. 30 anos trabalhando a espera de um cargo, assumir a presidência.
A confusão começa quando ele, tentando mostrar o poder que o FBI tinha, confessa que eles possuíam todas as informações possíveis sobre os membros do governo. Iam desde a vida política deles até casos extraconjugais. Isso fez com que o seu superior, o presidente do FBI, entrasse na lista dos mais odiados. E adivinha? Morreu dias depois (Eliminaram ele? Isso fica subentendido na história, já que seria coincidência demais ocorrer logo dias depois, né?).
A vida de Mark Felt
O filme mostra dois lados da história, sempre com o foco voltado em mostrar o que Felt estava passando. Um dele com a sua família, já que sua esposa estava cansada de “manter segredo” sobre o cargo dele e se mudar de cidade sempre que fosse necessário.
Após ele não ter conseguido o cargo, essa razão e necessidade de se mudar sempre, se perdeu. Isso aconteceu porque com a morte do seu superior, a jogada da Casa Branca foi inserir alguém de confiança lá dentro para ter acesso aos arquivos confidenciais.
E, além disso, ele tem uma filha, a qual fugiu de casa e não sabe onde está. Sua história com ela também não fica bem na cara ao longo do filme.
Então, esse drama familiar no filme foi uma forma de humanizar o personagem. Já que Felt chega a ser muito duro, ríspido e direto com suas relações no trabalho. Mesmo os mais próximos a ele pareciam não o conhecer de verdade.
Em paralelo a essa confusão em casa, está uma pior e que envolve toda uma nação. Já ouviram falar no caso Watergate? Exatamente, o filme conta justamente a história desse acontecimento que marcou a política norte-americana.
O que esperar do filme?
Quem aí curte histórias investigativas de descobrir quem falou sobre isso para quem, dramas empresariais e jogos políticos, vai amar Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca. Apesar de ter uma narrativa lenta e sem grandes choques de pessoas sendo assassinadas e sem jogos mais pesados, ele mostra a realidade em que Mark Felt vivia. E, claro, os dramas que enfrentava.
Imagine que situação chata. Seu chefe, diretor do FBI, Edgar Hoover, acaba de ser assassinado porque você, sem querer, confessou algo que poderia prejudicar alguns políticos. Suposição de assassinato, já que isso nunca fora provado. Logo em seguida, eles enviam um substituto para ele que, claro, só quer saber sobre esses documentos secretos.
A morte de Edgar Hoover, o diretor do FBI, foi tão questionadora que já virou temática de livro, O Arquivo de Chancellor, de Robert Ludlum, mostrada como assassinato. Ele até já ganhou um filme apenas sobre ele, com a atuação de Leonardo DiCaprio, chamado J. Edgar (2011).
O mais interessante foi que, logo após a morte do diretor do FBI, todos se juntaram para queimar diversas evidências, que, com certeza, eram as desejadas pelos políticos. E, óbvio, todos fingiram de sonsos quando o novo presidente se apresentou e questionou sobre os documentos.
O que Mark Felt poderia fazer?
Outro ponto interessante de se observar é que o Mark foi colocado na história como um homem que causa medo. Não medo no sentido de ser assustador, mas medo do que ele poderia fazer com as informações que tinha acesso diariamente. Em contrapartida, sabiam que ele não seria capaz de ir contra uma das principais regras lá dentro do FBI: não levar nada do que sabem para fora. Mas estavam enganados.
Como ocorreu o caso Watergate e as decisões da Casa Branca eram que fosse deixado de lado, Mark Felt decidiu intervir. Acreditou que se contasse à imprensa o que estava acontecendo, faria uma pressão no governo para que confessassem a situação. O problema era que ele precisava ser uma fonte anônima, já que isso era proibido.
Mas será que podemos considerar o Mark Feld um herói? Ao final do filme são mostradas frases que dizem que ele foi condenado pelas violações que cometeu sobre uma das investigações do FBI, da Wearther Underground. Mas ele nunca cumpriu a pena, já que o presidente Ronald Reagan impediu no ano seguinte a condenação. Então, fica aí a dúvida. O que teria acontecido se descobrissem que ele era a fonte de informação para os jornais?
Relação com as fontes no jornalismo
No curso de jornalismo é falado sobre o cuidado que devemos ter com nossas fontes, que gira em torno de um verdadeiro relacionamento. Ver se realmente são seguras, se estão falando a verdade, da razão delas estarem falando aquelas informações. E, claro, dar o direito de ser um informante “anônimo”, caso não quisesse se revelar. Uma confiança deve existir já que ambas precisam ter certeza de que tanto a informação é correta quanto a fonte secreta não será revelada.
Por isso, eu adorei acompanhar o relacionamento que Mark tinha com os jornalistas do The Washington Post, chamados Bob Woodward e Carl Bernstein. Parecia tudo tão perigoso. Até os locais escondidos que se encontravam, seja dentro de um café ou de um estacionamento subterrâneo, parecia realmente algo ilegal. Algo que poderia trazer um perigo tanto aos jornalistas quanto para Felt.
O interessante era que os jornalistas também faziam uma pesquisa sobre o acontecimento e Mark intervia, mas no filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca, fica nítido apenas que Mark Fel descrevia todas as situações para eles.
O mais legal de tudo foi que os jornalistas não revelaram a identidade dele. O que prova a ética existente entre fonte e profissional de jornalismo.
Garganta profunda em destaque
E, para quem curte acompanhar, os jornalistas publicaram um livro contando detalhes da investigação, que depois também ganhou um filme chamado Todos os Homens do Presidente (1976).
Após Felt confessar ser o informante – conhecido como Garganta Profunda – em 2005 para a revista americana Vanity Fair, Bob Woodward contou sobre sua relação com ele no livro O homem secreto (2005) e em uma matéria publicada um dia após a entrevista na revista. Imaginou? 33 anos guardando a identidade de uma fonte!
Além disso, adoro relembrar sempre o quanto o jornalismo é uma arma poderosa tanto quanto a política. Inserindo-se como o quarto poder, já que é capaz de influenciar a sociedade. E isso vale para o lado bom e para o ruim. Neste caso, por exemplo, a decisão de exibir na mídia serviu para mostrar que o caso de Watergate não poderia ser esquecido. Mas, claro, não foram apenas as matérias que levaram o caso para a renuncia. Foram um conjunto de fatores.
E aí, ansioso para assistir ao filme Mark Felt: O homem que derrubou a casa branca nos cinemas? A estreia é hoje!
Até o próximo post,
Beijos,
-Aninha Carvalho
Comment
Aninha,
pequena correção no que você brilhantemente escreveu
Política Federal norte-americana (FBI).
FBI =O que é FBI?
FBI é sigla de Federal Bureau of Investigation que significa “Departamento Federal de Investigação”. O FBI é uma agência que pertence ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e atua na investigação de crimes de âmbito federal.
FBI não tem nada a ver com política, é como a nossa Policia Federal. Atua nos crimes federais
Grande abraço, você é brilhante, com certeza assistirei este filme,
Marcos